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Mulheres na Ciência: conheça pesquisadoras ferreirenses na área da Educação

Fevereiro é o mês em que se celebra o dia internacional das mulheres na Ciência. A data foi criada em 2015 pela ONU com o objetivo de trazer à tona a discussão sobre a participação e importância das mulheres no meio acadêmico e científico. Segundo dados da Unesco, apenas ⅓ de todos os pesquisadores do mundo, são mulheres. No Brasil, essa desigualdade em relação aos homens é ainda maior.


Porto Ferreira, há bons anos, coleciona nomes importantes para a pesquisa em todas as áreas do conhecimento, mas em especial, na área da Educação. Nesta semana, vamos conhecer um pouco da trajetória acadêmica de 5 pesquisadoras ferreirenses, que se dedicam ao mundo da ciência e colaboram com a produção de conhecimento.


As professoras Andrea Calderan, Caroline Araújo, Flavia Cezário, Keila Marcondes e Rita Paueto, possuem trajetórias de vida diferentes, com especializações distintas, mas todas unidas em prol do desenvolvimento da pesquisa e da Educação. Elas destacam as pesquisas que realizaram, contam como surgiu o interesse pela pesquisa e refletem sobre como é ser pesquisadora no Brasil, os principais desafios e potencialidades.



Andréa Calderan, 29 anos

Professora na educação básica, no ensino superior e coordenadora do curso de pedagogia da Fatece de Pirassununga. E pesquisadora na área da Educação.


Rita de Cássia Pauleto, 40 anos

Supervisora de Ensino, Doutoranda em Educação e Professora do Ensino Superior


Keila Hellen Marcondes, 44 anos

Professora, atualmente atuando na Secretaria de Educação de Porto Ferreira.


Flávia Cezário, 45 anos 

Docente no Ensino Técnico e Profissionalizante, docente convidada na Universidade Tecnológica Metropolitana do Chile (UTEM) e pesquisadora da obra de Paulo Freire.


Caroline de Souza Araújo, 28 anos

Professora de ensino fundamental e pesquisadora sobre a relação escola-família



Título do trabalho/pesquisa acadêmica que desenvolveu e gostaria de destacar


ANDRÉA

Desde a graduação eu já realizava pesquisas científicas com enfoque na criança e no conceito de infância. Acredito que os estudos que mais trouxeram contribuições ao campo da educação foi minha dissertação de mestrado intitulada “CONSTRUÇÃO EMPÍRICA DO CONCEITO DE INF NCIA: o significado de Infância para os professores da Educação Infantil de São Carlos – SP” que versou sobre a importância da formação dos professores diante a multiplicidade de crianças e infâncias. Minha monografia da especialização em Sociologia da Infância intitulada “Filosofia com crianças como método de coleta de dado no campo da Sociologia da Infância” que discutiu sobre os métodos de escuta da criança em suas diversidades. E, por fim, minha tese de doutorado intitulada “A Geração Alpha na voz de estudantes durante a pandemia de COVID-19”, que destaca diversos aspectos sobre os impactos da pandemia e das tecnologias digitais na formação das crianças e, consequentemente, também para nós adultos e para a sociedade.

CAROLINE

RELAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA: desafios contemporâneos nos anos iniciais do Ensino Fundamental em tempos de pandemia (COVID-19) (pesquisa de mestrado).

KEILA

Das pesquisas desenvolvidas na minha trajetória profissional, destacaria a pesquisa do doutorado, que foi desenvolvida há mais de uma década e que ainda contribui em demasia quanto ao entendimento do desenvolvimento das crianças em transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental. No entanto, devido a especificidade que foi a pandemia e a dificuldade em realizar meu pós-doutoramento, destacaria meu último estudo: “Crianças, famílias e profissionais da educação em tempos de pandemia (covid-19): análises das concepções e práticas nas creches”.

RITA

A relação entre a arquitetura escolar e o processo de ensino e aprendizagem: levantamento a partir dos bancos de dados da ANPED e da Capes entre 2005 a 2018.

FLÁVIA

Paulo Freire e Célestin Freinet: educação para a plenitude do ser humano. Este estudo tem como objetivo analisar a convergência das teorias de Paulo Freire e Célestin Freinet na Educação de Jovens e Adultos (EJA) visando compreender os processos de desenvolvimento da autonomia, criticidade e crescimento profissional identificando a semelhança de ideais e teorias dos autores citados para se repensar a EJA e a formação para o trabalho.

Como surgiu o interesse pelo ramo da pesquisa?


ANDRÉA

Filha de diretora escolar aposentada, desde pequena estive no ambiente educacional e amava. Foi isso que me levou a fazer o curso de pedagogia e, enquanto graduanda, sempre aproveitei todas as oportunidades que a universidade oferecia. A iniciação científica foi uma delas. Também tive uma orientadora incrível que me deu oportunidade de aprender ainda mais e que me incentivou a seguir com a pesquisa científica e com a carreira acadêmica, pois é uma área que desde o primeiro contato eu já tinha me identificado muito. Minha família também sempre me incentivou e apoiou psicologicamente e financeiramente para que eu pudesse dar continuidade nos meus estudos na pós-graduação.

CAROLINE

Quando estava na faculdade de química, tive algumas disciplinas pedagógicas, nas quais comecei a entender o contexto da educação e formas pelas quais o indivíduo aprende. Isso começou a me fascinar, principalmente ao ter contato com informações de que o meio, cultura e condições afetam a aprendizagem. Aí desenvolvi meu grande interesse pela área em si, a educação. Após a mudança de curso, logo mais questionamentos começaram a surgir devido a esse interesse pelo que estava envolvido nas dificuldades de aprendizagem. Comecei a trazer situações desde a época em que eu estudava e via a dificuldade da escola para estabelecer essa comunicação com as famílias, ainda que deixassem claro a necessidade de participação. Por outro lado, me questionava se a escola realmente queria essa participação devido às várias reclamações que já havia ouvido ao longo da minha trajetória escolar e de estágios ou época de pibid na química.

KEILA

Como diria Rubem Alves, a “curiosidade é uma coceira nas ideias” e essa coceira sempre foi existente em mim. Nasci e vivi por dezessete anos na zona rural de Porto Ferreira, o contato com o ambiente natural sempre permitiu a criação de perguntas e a busca por respostas. Questões como: “Por que o sol muda de posição no seu nascer ao longo do ano? Quais os ciclos compõem a vida de uma árvore ao longo do ano, qual sua relação com as estações? Como uma galinha põe seus ovos?”. Essa curiosidade e os direcionamentos dos adultos que interagiam comigo, permitiram, desde pequena desenvolver o que chamamos de “desejo de pesquisar”. Quando fui para a graduação, conhecendo um pouco esse espaço da pesquisa na Universidade, busquei rapidamente me inserir nesse espaço. De lá, para cá, o interesse em pesquisar e o desejo pelo conhecimento só aumentou.

RITA

A motivação para a pesquisa nasce a partir das vivências em minha atuação profissional na educação pública e nos percursos de aprendizagem dentro da Universidade Federal de São Carlos. O fascínio pela educação pública é antigo, nascido desde o meu ingresso no magistério como professora, no ano de 2009, e tendo o percurso da graduação em Pedagogia, atuado como elemento impulsionador deste encantamento. De ímpeto, a diferenciada composição arquitetônica dos prédios escolares localizados em áreas centrais e periféricas foi o fato que mais chamou-me atenção e me conduziu para o mundo da pesquisa, sendo a temática estudada durante o Mestrado em Educação. Questões como estrutura, arquitetura, políticas públicas, ensino de qualidade, entre outras, passaram a guiar o meu olhar pelos prédios escolares públicos das cidades, como uma busca para conseguir compreender as relações passíveis ou causais que se estabeleciam em cada contexto e/ou condição de aprendizagem.

FLÁVIA

Ainda na Faculdade de Pedagogia, já vindo de uma carreira na área de Recursos Humanos atuando com treinamentos, e sempre em busca de estratégias de comunicação e ensino para adultos, encontrei na obra e legado de Paulo Freire a Educação como transformadora do ser humano. Tive a honra de ser acompanhada não só no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), mas em todo curso pela Profa. Dra. Keila Marcondes, uma referência em Educação em nosso município que me sugeriu ler sobre Celèstin Freinet, pois seria o que faltava para entender o processo da Educação Libertadora, sua metodologia e ainda entender que não se tratava de uma proposta nova, visto que Freinet atuou em torno de 1920. Hoje, posso afirmar que aplico esta prática com verdade em qualquer esfera do ensino que leciono, pensar no aluno como o centro do processo, valorizar sua História e seus contextos e aprendizados anteriores e tornar a sala de aula um ambiente agradável, onde convivo com meus alunos em harmonia e igualdade eliminando a comum distância que se cria entre o aluno e o “senhor professor”.

Como você avalia que é ser pesquisadora hoje no país?


ANDRÉA

O desafio da pesquisa no Brasil são muitos, falando especialmente sobre a questão de gênero, as mulheres ainda enfrentam desigualdades, por exemplo, já participei de um congresso científico em que todos os palestrantes eram homens e o público era majoritariamente masculino. Além disso, ainda são poucos os incentivos à pesquisa no Brasil e a absorção de pesquisadores pelo mercado de trabalho é muito escassa, por isso há uma fuga de pesquisadores que vão trabalhar em outros países onde essa carreira é mais valorizada. Nesse sentido, o grande desafio então esbarra na própria perspectiva de desenvolvimento brasileira que investe muito pouco em pesquisa e desenvolvimento e não abre espaço para a atuação do pesquisador em outros espaços que não sejam a academia. Ainda, os pesquisadores que conseguem permanecer na academia sofrem com o sucateamento sistemático do meio acadêmico há anos e, nesses casos, a pesquisa se torna um verdadeiro ato de resistência e, muitas vezes, um investimento pessoal, tendo em vista que o fomento à pesquisa está cada vez mais limitado.

CAROLINE

Hoje a pesquisa não é levada com a devida consideração, em especial na área da educação. O reconhecimento profissional baseado em pesquisas é algo pouco levado a sério, por exemplo. Muitos creem que os pesquisadores querem apenas agregar o título, porém, não se trata disso, não é só um complemento de currículo. A pesquisa tem serventia para a sociedade como ciência, serve para procurar novos caminhos, melhorar os existentes e rejeitar aqueles que são menos eficientes ou efetivos. Na área da educação, há uma grande necessidade de dar eficiência, haja visto a quantidade de verba gasta pelo governo e o retorno que recebe na educação (até o ensino médio). Então, por mais que haja utilidade pública, não há reconhecimento real e vemos, como consequência, corte de verbas direcionadas à pesquisa.

KEILA

Somos um país com um potencial gigantesco para a ciência. Temos um povo curioso, determinado e extremamente criativo. Geramos conhecimento e ciência com a mesma qualidade que países que possuem financiamento muito acima dos que são disponibilizados à nós. Infelizmente, em nosso país, os fomentos para a pesquisa, sejam eles investimentos do setor público ou dos privados, para a produção de ciência, acaba sendo o pior entrave para a manutenção da qualidade do conhecimento produzido. Se com a precarização temos tantos resultados expressivos de produção de ciência, se houvesse investimentos maiores nos setores de pesquisa, certamente produziríamos muito mais. Apesar desse entrave, é nas Universidades Públicas ainda que reside o principal locus de produção de conhecimento científico.

RITA

Atuar na área acadêmica, para mim, é um enorme desafio. Além do intenso trabalho das atividades de pesquisa, ainda há a necessidade de vincular a vida profissional com a vida acadêmica, o que demanda por dinâmicas que envolvem planejamento, disciplina, investimento e organização. A baixa oferta de bolsas de estudos impulsiona o estudante pesquisador para o mundo do trabalho, o que dificulta sua dedicação integral ao mundo da pesquisa. Ser pesquisadora no atual cenário socioeconômico do país, que vem nos últimos anos acumulando desinvestimentos substanciais em educação, é realmente um grande desafio. Ainda assim, a universidade pública vem resistindo e demonstrando a sua força. Que cenários mais promissores sejam vivenciados em brevidade.

FLÁVIA

Ser pesquisadora em Educação no Brasil acredito que seja um dos maiores desafios dentro da área de pesquisa em si, pois em áreas como tecnologia os investimentos e o número de interessados é muito maior. A Educação no Brasil, em especial na rede pública está muito longe do ideal, ou até mesmo do aceitável, mas tem se tornado um assunto cada vez mais fora de discussão, em consequência, fora de pesquisas e estudos. Outra dificuldade relevante é que ano a ano, os números indicam cada vez menos a procura pelo ingresso nas carreiras de Pedagogia e Licenciaturas, o que seria a “porta de entrada” para futuros pesquisadores em Educação. Em resumo, somos poucos, temos poucos recursos e incentivos mas somos repletos de um ideal: a transformação da sociedade só se fará através da Educação.

O que você deseja para o futuro da ciência no Brasil?


ANDRÉA

Primeiramente, espero que o país aumente significativamente os investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Isso inclui não apenas financiamento adequado para projetos de pesquisa, mas também a valorização do trabalho dos pesquisadores, reconhecendo sua importância para o avanço da sociedade. Também desejo a promoção da equidade de gênero e a diversidade na pesquisa, de modo a eliminar as disparidades e reconhecer o trabalho de diferentes pesquisadoras. Ressalto ainda a importância da valorização dos pesquisadores brasileiros e de suas pesquisas em diferentes setores do mercado de trabalho, de modo que também haja maior absorção destes profissionais. Embora sejamos cobrados por produtividade e isso tenha sido realizado de maneira controversa, precisamos sim de mais pesquisas, sem deixar a ética, o compromisso e a responsabilidade de lado, priorizando a qualidade deste trabalho. Por fim, eu desejo que todas as pessoas tenham oportunidade e condições de acesso para realizarem pesquisa.

CAROLINE

Maior reconhecimento e até maior engajamento das pessoas nas diferentes áreas de pesquisa. Fazer com que os estudos sejam direcionados para melhorar a condição de vida das pessoas. Maior acesso e divulgação para a sociedade.

KEILA

Eu desejo que a ciência não seja negada, é o conhecimento científico que lança luz à sombras, que nos tira do místico e sobrenatural, para o comprovado. Eu desejo que todo aluno, aluna de rede pública tenham acesso à mesma oportunidade que eu tive, que foi de construir uma trajetória acadêmica totalmente subsidiada pelos aparelhos públicos da educação. Eu não conseguiria desenvolver ciência se não fosse a educação pública, gratuita e de qualidade. Desejo também que as meninas/mulheres adentrem o campo da ciência. Que ocupem seus espaços na produção do conhecimento que movimenta nossa sociedade e que sejam respeitadas em toda a sua potencialidade.

RITA

A condição das universidades públicas chegou a um estado de enorme precariedade, asseverada pelos últimos anos de total abandono. Desejo fortemente que o atual cenário seja pauta na agenda política vigente e que investimentos copiosos façam parte das políticas públicas. Anseio para que a carreira acadêmica seja acessível, para todos os estudantes e profissionais que assim o desejarem. Que carreiras na pesquisa possam ser viabilizadas e estimuladas desde a educação básica para todos os estudantes - meninos e meninas - , no anseio de que rompamos com “cara e o gênero” da pesquisa. Também vejo como necessário que as carreiras profissionais possam valorizar e dialogar com a pesquisa, viabilizando essa importante oportunidade de qualificação em serviço.

FLÁVIA

Para mim, não existe ciência sem Educação e nem Educação sem ciência. Meu desejo é que se expandam os programas de incentivo à pesquisa, principalmente dentro das Universidades sejam elas públicas ou privadas (poucas tem), pois acredito que em todas as áreas e cursos existem grandes pesquisadores mas que não se “descobriram pesquisadores”, por falta de programas expressivos de iniciação científica, ou seja, o estudante de Medicina vai para o consultório ou hospital, o aluno da Licenciatura vai prestar um concurso e ser docente, o Engenheiro vai abrir o escritório sem ter tido a oportunidade de experimentar o sabor da pesquisa.

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